Tabela de Sínteses

Que conceito ou ideia pode ao mesmo tempo “fazer parte” do planeta Saturno e de uma flor? O conceito de “cor”, por exemplo, está presente nos dois. Ao encontrar este conceito comum os alunos estão a usar uma competência de raciocínio bastante avançada conhecida como “síntese”.

Materiais Necessários: Papel, materiais de colorir (por exemplo, marcadores, lápis de cor). Criar com os alunos uma tabela de dupla entrada com 10 desenhos simples na linha horizontal e outros 10 na vertical. Desta forma os alunos serão capazes de criar pares únicos como por exemplo, Cão e Borboleta, Carro e Barco, Planeta e Árvore.

Descrição – Neste exercício, os alunos selecionam um par de desenhos de uma tabela de dupla entrada (por exemplo, Gato e Árvore) e serão desafiados a pensar numa palavra que possa sintetizar ou representar ambos os desenhos. Por exemplo, para Gato (horizontal) e Árvore (vertical), a palavra-síntese poderia ser “Natureza”.

Objetivos Pedagógicos:

  • Desenvolver a habilidade de fazer conexões entre conceitos diferentes.
  • Estimular a síntese de informações e características ao encontrar um termo que encapsule características comuns de dois conceitos.
  • Promover o pensamento criativo e a expressão verbal ou escrita para comunicar ideias de forma clara e rigorosa.

Competências Cognitivas Trabalhadas:

  1. Análise: Os alunos começam por analisar os desenhos e identificar características ou temas comuns entre eles (por exemplo, ambos estão relacionados com a natureza).
  2. Síntese: Depois devem sintetizar suas observações numa palavra que capture a essência ou uma característica comum aos dois conceitos representados pelos desenhos.
  3. Comunicação: Expressar a palavra-síntese requer habilidades de comunicação para transmitir o seu raciocínio de forma clara e rigorosa aos outros.

Benefícios Adicionais:

  • Encoraja os alunos a pensar de forma crítica e criativa sobre as relações entre diferentes conceitos.
  • Ajuda a expandir o vocabulário e a capacidade de expressão dos alunos.
  • Fomenta uma compreensão mais profunda dos conceitos através da síntese de informações.

Este exercício foi pensado para promover o pensamento crítico e a análise conceptual, ao mesmo tempo que incentiva os alunos a expressarem suas ideias de forma significativa e precisa. Pode ser adaptado para diferentes níveis de habilidade e idades, como neste outro exercício, oferecendo uma maneira divertida e educativa de explorar conexões entre diferentes conceitos representados pelos desenhos na tabela.

Criação de Quimeras – desenhos híbridos

Mitologicamente uma Quimera é um animal com características de outros animais (cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente). A criação de uma Quimera é um exercício criativo e lógico de síntese de vários elementos num todo mais ou menos coerente. Este exercício pretende desenvolver estas duas competências de Pensamento Crítico e Criativo ao mesmo tempo que envolve os alunos numa actividade divertida e colaborativa.

Objetivo: Estimular a criatividade e a capacidade de síntese ao combinar elementos de dois desenhos diferentes para criar algo novo e imaginativo.

Materiais Necessários: Papel, materiais de colorir (por exemplo, marcadores, lápis de cor). Criar com os alunos uma tabela de dupla entrada com 10 desenhos simples na linha horizontal e outros 10 na vertical. Desta forma os alunos serão capazes de criar pares únicos como por exemplo, Cão e Borboleta, Carro e Barco, Planeta e Árvore.

Passos:

  1. Escolher um Par: Os alunos escolhem um par de desenhos da tabela (por exemplo, Cão e Borboleta; Sol-Onda; etc.).
  2. Identificar Características: Em pequenos grupos os alunos discutem as características distintas de cada desenho do par. Por exemplo, um cão tem pelo, quatro patas e uma cauda, enquanto uma borboleta tem asas coloridas e antenas. O sol é redondo e quente, a onda é dinâmica e fresca.
  3. Imaginar a Quimera: De seguida os alunos devem imaginar e desenhar uma nova criatura, objeto ou cena que combine elementos de ambos os desenhos. Podem, por exemplo, desenhar um “cão-borboleta” com asas de borboleta, corpo peludo e uma cauda que lembra uma borboleta. Ou uma “onda-sol” onde os raios de sol chegam à Terra em forma de ondas refrescantes.
  4. Atenção: sintetizar não é adicionar ou, simplesmente,  justapor. Fazer uma síntese implica criar algo novo a partir de uma combinação ou superação do que já existe. Nem sempre é fácil fazer isto mas é neste sentido que devemos incentivar os nossos alunos a criar as suas quimeras pois, inicialmente,  serão tentados a, simplesmente, juntar os dois desenhos sem nenhum trabalho de criatividade e invenção.
  5. Adicionar Detalhes: Deixe a criança adicionar detalhes criativos à sua Quimera. Os alunos podem decidir sobre cores, padrões e quaisquer características adicionais que tornem a criação única e interessante.
  6. Refletir e Discutir: Após completar a tabela (ou parte dela), os alunos apresentam uns aos outros as suas criações híbridas.

Competências Cognitivas Estimuladas:

  • Criatividade: Ao misturar elementos de diferentes desenhos, o exercício estimula o pensamento criativo e a imaginação.
  • Síntese: A criança pratica a combinação de ideias diferentes numa totalidade ou generalidade que as unifica desenvolvendo assim as suas habilidades de síntese.
  • Resolução de Problemas: Desenhar um híbrido envolve resolver problemas para tomar decisões sobre como fundir características e criar uma composição (mais ou menos) harmoniosa.
  • Expressão: O desenho permite que a criança expresse as suas ideias visualmente e desenvolva as suas habilidades artísticas.

O exercício “Criação de Quimeras” é uma forma divertida e envolvente para as crianças explorarem a sua criatividade, pensarem fora da caixa e cultivarem um sentido de experimentação artística. Encoraja-as a abordar conceitos familiares de maneiras novas e imaginativas, promovendo um desenvolvimento cognitivo holístico.

O Náufrago, Thomas Bernhard

Um livro estranho este, “O Náufrago”. Já me tinham avisado, já o tinha deixado nas primeiras páginas mas, ainda assim resolvi voltar a ele. Num único parágrafo de 145 páginas reproduz a forma como normalmente pensamos, penso eu. Repetindo ideias e revisitando, quase sem os alterar, os nossos “bibelots mentais”, aquela tralha mental de que nunca nos livramos e servem para nos identificarmos e apresentarmos aos outros quando somos visitados. É com essa tralha que dizemos quem somos. No caso do narrador os seus “bibelots” são Glenn Gould (o mamarracho central da sua sala de visitas), o seu amigo comum Wertheimer, o suicídio deste por causa do génio de Gould que impediu os outros dois de perseguirem uma carreira de pianistas virtuosos. O tema central do livro (ou do parágrafo) pode mesmo ser esta desistência perante a genialidade do outro que nos faz ver que as nossas ambições eram vãs ou desajustadas. Perante isto Wertheimer escolheu o suicídio, o narrador uma existência indolente dedicada vagamente a Glenn Gould com aproximações e afastamentos a uma biografia que se comprometeu a escrever sobre ele. Trata-se de um livro enganadoramente estático. É estático como um lago. Por fora não se mexe, não vai a lado nenhum mas, por dentro, é rico em simbioses e relações entre os seus elementos biológicos e minerais. Podemos tirar uma amostra de água aleatória em qualquer lugar do lago e ficamos com uma muito boa ideia do estado do ecossistema. Podemos ler duas ou três páginas deste livro e acontece o mesmo. Mas vale a pena porfiar, percorrer o lago todo pois há variações na repetição. Como as “Variações de Goldberg” interpretadas por Glenn Gould, que levaram Wertheimer ao suicídio e o narrador à indolência que se desenvolvem a partir de uma ária inicial. A ária que os dois amigos de Gould ouviram no átrio da escola e lhes tolheu as ambições e destruiu as vidas. Um livro em que as ideias se apresentam e não se resolvem e depois se rearesentam inalteradas ou apenas ligeiramente alteradas. Um livro como uma fuga de Bach. Um livro como uma amostra de água de um lago. Como a vida.

#17 – A indiferença

Foi pela janela do chuveiro que julgou ver o corpo do seu marido enforcado numa árvore no pequeno bosque nas traseiras de sua casa. Podia ser isso ou o roupão azul que ele às vezes punha ali a arejar uma vez que nunca o lavava. Desceu, preparou o lanche dos miúdos e verificou que saíam pela frente. Quando regressou à cozinha já lá estava ele a bebericar o café de boxers. Durante todo este tempo o seu ritmo cardíaco permaneceu inalterado nos 72 batimentos por minuto. No fundo era indiferente se era ele ou o roupão ali pendurado.

Mais Tentativas aqui.

Categorizar e Classificar

Ao categorizar estamos a criar grupos de coisas com alguma semelhança entre si. Por exemplo, o grupo das coisas naturais, o grupo das coisas inventadas pelo Homem, o grupo das coisas que se transformam, etc. Já classificar implica criar uma qualquer hierarquia dentro desse grupo. Por exemplo, do maior ao menor, das mais úteis às menos úteis e das mais rápidas às mais lentas.

Este exercício pretende estimular o pensamento crítico e criativo dos alunos nestas duas competências ao mesmo tempo que os incentiva a colaborar na resolução de problemas.

Exercício

1 – Dar aos alunos estas 12 imagens.

2 – Em grupos pequenos devem criar 4 conjuntos de 3 elementos (4X3) semelhantes e, dentro desses conjuntos ou categorias, inventar uma hierarquia qualquer que os classifique.

Ex: A tesoura, o rádio e a televisão foram feitos pelo Homem. A ordem indicada é a da antiguidade de cada objeto.

3 – Conforme o desempenho dos vários grupos podemos ir aumentando a dificuldade do exercício pedindo categorias cada vez maiores: 3X4, 2X6 e 1X12.

Neste último grupo, o mais difícil, os alunos devem encontrar algo que todos os elementos tenham em comum e criar uma qualquer hierarquia, ou ordem, entre eles. Para isso terão de exercitar-se numa forma de raciocínio criativo conhecido como pensamento lateral que é caracterizado, entre outras coisas, pela capacidade de se encontrar padrões pouco comuns entre os vários elementos.

4 – Esta é uma sessão sem um diálogo final organizado, mas podemos aproveitar o momento final de apresentação dos vários trabalhos dos grupos para irmos interrogando os alunos acerca dos critérios utilizados. Aqui estão alguns exemplos recentes: “Deus não criou as tesouras?”; “Tudo o que existe veio do sol?”; “Um rádio é mais útil que um carro?”; etc.

Analogias para Todos

Compreender analogias é uma importante competência de pensamento crítico envolvendo elementos cognitivos e linguísticos tais como identificar conceitos e perceber diferentes relações entre eles. Estabelecer comparações e semelhanças entre diferentes ideias requer também boas capacidades de abstração e raciocínio lógico assim como uma boa flexibilidade mental para sair dos quadros de pensamento habituais e explorar novos campos conceptuais até aí insuspeitos.

Uma vez que pensar por analogia implica também competências de pensamento criativo tais como o reconhecimento de padrões fora do comum e o relacionar de elementos que normalmente não estão relacionados (o que tem a ver uma chave com um telescópio?) temos aqui reunidos os elementos certos para um bom exercício de grupo onde as múltiplas competências dos diferentes elementos serão necessárias (experiência do mundo, conhecimento de várias disciplinas, competência linguística, perícia lógica, raciocínio abstracto, etc.). Individualmente nem todos somos bons em tudo, mas em grupo todos somos bons em muita coisa. Saber aproveitar o melhor que cada um tem para contribuir para o grupo é uma importantíssima atitude de Pensamento Crítico que importa cultivar com os nossos alunos.

Explicação

Começamos por explicar o que é uma analogia. Podemos dizer, por ex. que uma analogia é uma comparação que ajuda a entender algo usando coisas parecidas. Alguns exemplos muito simples:

O sorriso é para felicidade, como lágrimas são para tristeza.”; “A abelha é para flor, como pássaro é para ninho”; “As ondas são para o mar, assim como vento é para o céu.”; “O sol é para o dia, assim como a lua é para a noite.”

      Exercício

      1. Dividir as crianças em grupos de 3 ou 4 membros.
      2. Distribuir os cartões ou imagens dos oito elementos para cada grupo.
      3. Explicar que o objetivo do jogo é encontrar analogias entre os elementos e explicá-las.
      4. Cada grupo deve tentar criar o maior número de analogias entre os elementos.
      5. De seguida os grupos apresentam a analogia para os outros grupos, explicando por que escolheram aqueles elementos e qual é a relação entre eles.
      6. Os outros grupos podem fazer perguntas ou oferecer comentários sobre as analogias apresentadas.
      7. Repitir o processo até que todos os grupos tenham tido a oportunidade de apresentar suas analogias.

      Exemplo de analogia:

      • Elementos: Chave e Lupa
      • Analogia: Assim como uma chave abre portas, uma lupa amplia a visão.
      • Explicação: Tanto a chave quanto a lupa têm o poder de “abrir” ou “ampliar” algo. Enquanto a chave abre fisicamente portas, a lupa amplia nossa visão ao aumentar o tamanho dos objetos observados.

      Esse exercício não só ajuda as crianças a praticarem o raciocínio analógico, mas também promove a colaboração em grupo e a criatividade na formulação de conexões entre os elementos.

      Outro exercício de analogias aqui.

      #16 – Felicidade é outra coisa

      Felicidade é outra coisa

      De acordo com o Relatório Anual sobre a Felicidade Mundial encomendado pela ONU, Israel é o quinto país mais feliz do mundo. (PÚBLICO, 20/03/24).

      Como é possível a felicidade israelita? Como é possível ser-se feliz ao lado de Gaza, Khan Yunis e Rafah? Como ser feliz sabendo que o nosso país é responsável por “uma catástrofe humanitária épica” mesmo ali do outro lado do muro?

      Acho que não é possível. Acho que nestas circunstâncias os israelitas não podem ser verdadeiramente felizes. Ser feliz não é apenas ter dinheiro, as nossas necessidades satisfeitas, saúde, amigos e bem-estar. Sim, é preciso tudo isso, mas tudo isso não chega. Falta a tríade ética da justiça, da verdade e do bem para que alguém possa dizer que vive uma vida feliz. Sem isto não somos felizes apenas gostamos de estar vivos, que são coisas diferentes.

      O Estado da Palestina estava no Top 100  (99° lugar) neste campeonato dos “países mais felizes do mundo”, apesar de a Palestina não ser verdadeiramente um país. É outra coisa. Já Israel é um país mas não é verdadeiramente feliz. É outra coisa.

      Texto no PÚBLICO (2/2/24)

      Mais Tentativas

      # 15 – A “desengonça”

      “Geringonça”, foi o nome que se deu à solução governativa de esquerda saída das eleições legislativas de 2015. Essa engenhoca política, que consistia numa série de acordos entre o PS e os partidos parlamentares à sua esquerda (BE e PCP) mostrou-se mais sólida do que se esperava e do que o seu nome prometia. 

      André Ventura tentou por tudo construir uma engenhoca dessas à direita mas, pela amostra que tivemos do primeiro dia de trabalhos na Assembleia da República, mal se tentou pôr essa engenhoca a andar ela revelou-se extremamente desengonçada.

      Será que a direita, ao contrário da esquerda, não conseguirá melhor que esta “desengonça”?

      Texto no PÚBLICO

      # 14

      Onde é que estacionamos o carro?

      Quando nos esquecemos onde estacionamos o carro e deambulamos pelo parque de estacionamento do supermercado a empurrar um carrinho de compras cheio até cima, sentimo-nos ali entre o envergonhado e o divertido.

      Acho que é assim que nos sentimos hoje em Portugal. Envergonhados por termos perdido um governo que parecia sólido e estável, mas divertidos pelo que antecipamos que aí vem. O nosso carrinho de compras transborda de excedente orçamental e estamos desejosos de saber como o vamos gastar.

      No próximo dia 2 de Abril o nosso Presidente dá posse ao novo governo da República e aí já terá caído a vergonha. Já teremos encontrado o sítio onde deixámos o carro e tomaremos um novo rumo partindo desse lugar onde ficámos. Mas por quem será distribuído o conteúdo do carrinho de compras? 

      A política, apesar de tudo, também pode ser divertida.

      Mais Tentativas.

      Texto no PÚBLICO

      #13

      Há votos melhores que outros?

      Tem-se falado muito da quantidade de votos desperdiçados nas nossas eleições. Votos que “vão para o lixo”, diz-se. Não se tem falado tanto da qualidade dos votos nas nossas eleições. Em princípio, em democracia todos os votos valem o mesmo: ”um”.

      Ainda bem que é assim, no entanto, alguns votos parecem ter mais valor que outros. Quem, por exemplo, votou no partido ADN pensando que estava a votar na coligação AD votou de forma desatenta, desinformada e manipulada. O seu voto foi, qualitativamente, um mau voto mesmo que, quantitativamente, tenha o mesmo valor que todos os outros: “um”.

      Desatenção, desinformação e manipulação vêm em graus. Todos padecemos mais ou menos de todos esses vícios. Proteger a democracia passa por cultivar uma sociedade que nos permita tornar-nos cidadãos mais atentos, mais informados e mais críticos, menos propensos a ser manipulados e capazes de escolhas eleitorais mais esclarecidas. Só assim é que todos os votos valerão efectivamente o mesmo: “um”.

      Mais Tentativas.

      Este texto no PÚBLICO