Qualquer bom artífice conhece bem as ferramentas do seu ofício. Além disso sabe como usá-las e quando usá-las. Com a arte do pensamento crítico é a mesma coisa. Termos essa noção do que estamos a fazer quando estamos a pensar e a falar é uma competência difícil de adquirir. Normalmente falamos pelo coração, o que quer dizer que dizemos aquilo que sentimos sem grande filtro por parte do cérebro. Ser capaz de saber de que forma estamos a dirigir o nosso discurso (trata-se de uma pergunta, de uma crítica, de um exemplo, etc.) ou onde o estamos a incidir (sobre uma pergunta, um argumento, uma hipótese, etc.) é uma importante competência de raciocínio que tem o nome de Metapensamento, uma espécie de ponto de vista distanciado sobre o próprio pensamento.
Este exercício tem como pretexto uma competição saudável de debates de ideias entre os alunos, mas o seu fito é o de os colocar a pensar de forma mais distanciada e crítica sobre o seu próprio pensamento. Durante o jogo os alunos irão pensar em coisas como o que estou a fazer é uma crítica? estou a dar um exemplo?; a fazer uma pergunta?; isto é uma razão ou um exemplo?; etc.
Além disso algumas perguntas forçarão os alunos a procurar razões para argumentos com os quais não estão de acordo. Dada a ideia de jogo associada a este exercício os alunos irão perceber bem isso e, dessa forma, estarão a trabalhar outra competência de pensamento crítico importante, a capacidade de explorar outros pontos de vista além do seu, uma variante do pensamento hipotético. Para os alunos que tenham alguma dificuldade inicial em distanciar-se das suas ideias podemos sugerir que imaginem o que diriam um amigo novo que pensasse que sim, ou que não. Assim estamos a incentivar o aluno a pensar como é que outra pessoa poderá pensar.
1 – Pedimos a um aluno que diga um número de 1 a 1001 (ou o número de perguntas filosóficas nesta lista).
nota: escolher uma pergunta fechada (que peça um resposta Sim ou Não) pois facilita o exercício. Exemplos em baixo.
2 – Os alunos juntam-se em grupos de três em que um aluno defende o Sim, o outro defende o Não e o terceiro é o Juíz).
3 – Durante 5 minutos os dois alunos argumentam, fazem perguntas, dão exemplos, criticam as ideias do outro, etc. O Juíz apenas observa e dá pontos por cada ferramenta para pensar utilizada. Lista de pontos em baixo.
4 – No final do tempo estabelecido o vencedor troca de lugar com outro vencedor de outro grupo onde irá exercer o papel de juíz para nova pergunta e novo debate
Pontuação
Razão – 2 pontos
Crítica – 2 pontos
Pergunta – 3 pontos
Hipótese – 2 pontos
Exemplo – 1 ponto
Contra-Exemplo* – 2 pontos
Analogia* – 2 pontos
*(só para os alunos mais avançados – 2 CEB – que conheçam a diferença entre um exemplo e um contra exemplo e já saibam argumentar por analogia. Ver aqui.)
Ponto Extra – Se os alunos anunciarem o que vão dizer (“Vou apresentar uma crítica a essa ideias”,”Vou dar um exemplo”, etc.) recebem + 1 Ponto além do que iriam receber por usar a ferramenta adequada.
Diferença entre analisar e avaliar: o Juíz não dá os pontos em função de concordar ou não com as ideias apresentadas, apenas avalia se essa ideia é uma razão, uma pergunta, etc. e dá a pontuação adequada. Este é uma forma de os alunos perceberem a diferença entre analisar uma ideia e avaliar essa ideia. Ao pontuar sem ter em conta se concorda ou não com a ideia o aluno está a analisá-la. Só em caso de empate é que o juíz decide que é o vencedor do debate e aqui já está a avaliar as ideias apresentadas.
Exemplos de perguntas fechadas
- Os animais falam?
- Brincar devia ser proibido?
- O buraco do donut existe?
- Seria bom viver para sempre?
- Temos uma alma?
- Há pessoas não humanas?